Nada mais existia
Não havia mais transito, nem a vizinha gritando com o filho. Não havia mais o chefe fazendo piadas machistas, o cachorro magro virando o lixo na rua, a vizinha que sorria ao dar "bom dia", a ambulância com a sirene ligada ou o morto sangrando na calçada.
Não havia nada.
Não é que todos haviam sumido. Não, todos continuavam a viver as suas vidas, ela é que um dia acordou e já não mais existia. Assim como um passe de mágica, ela desapareceu.
Imersa na escuridão ela sorriu, e então chorou, e então gritou; e gritou mais alto para depois gargalhar. E gargalhou até a barriga doer e ela voltar a chorar.
Tudo no mundo havia, exceto ela
Tudo ainda existia, exceto ela
Tudo ainda vivia, exceto ela
Sentiu o desespero tomar conta de si enquanto percebia a realidade
"Tudo no mundo havia, exceto ela
Tudo ainda existia, exceto ela
Tudo ainda vivia, exceto ela"
Então, no meio do manto escuro que a cobria, reluziu uma luz que foi crescendo até envolver o todo. Do silêncio surgiram ruídos ao longe: crianças brincando, pessoas dançando, cachorros latindo, um rio passando. E então a calma a inundou como águas profundas de um rio.
"Tudo no mundo ainda havia
Tudo ainda existia
Tudo ainda vivia
exceto ela"
e então se fundiu ao rio e deixou a correnteza levar, para assim desaparecer.
Completamente
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